13 de agosto de 2014

DO MÉRITO PARA RECEBER O SEU TEMPO

Sim, na última sexta-feira, dia 08 de agosto de 2014, eu enviei para uma pessoa a seguinte mensagem:


Gostaria de ressaltar, antes de mais nada, que há outras pessoas que merecem esta mensagem porque também ocupam um idêntico espaço em meu coração, mas houve quem apareceu mais rápido em minha memória naquele dia.
Esta pessoa é muito querida por mim. A psicóloga dela certa vez a disse, em outras palavras, que ela seria apenas um objeto a meu dispor, que quando fosse utilizado, seria descartado. Ledo engano. É um tremendo equívoco dos psicólogos quererem decifrar as pessoas que não estão sequer próximas dos seus consultórios, estão presentes apenas nas palavras de seus pacientes. O tempo foi capaz de provar que estive presente na vida desta pessoa muito além da "profecia" da citada psicóloga. Eu agi conforme aquela máxima kantiana: "devemos tratar todo o ser humano como fim e não como meio", ou seja, devemos tratar as outras pessoas como sujeitos e não como objetos. Costumo agir assim, embora já tenha errado com algumas pessoas por não ter lhes dado a devida atenção ou por outros motivos não-intencionais.
Mas por qual razão esta pessoa tão querida foi recordada por mim? Havia algum tempo que nós não nos falávamos, por questão de distância, rumos distintos na vida e outros "poréns".
Em primeiro lugar, porque ela tem comportamentos que representam o oposto de atos de outras pessoas que considero inadequados.
A pessoa que ocupa um espaço belo em meu coração é dotada de uma alta capacidade de compreensão, de amizade, de perdão, de aceitação; enfim, de "humanismo" - pelo menos, é assim que a vislumbro hoje. E por que razão a enxergo com estas características? Por causa do tratamento que ela sempre me deu. Foram as práticas dela que me trouxeram alguma benevolência, quando eu solicitei. Lembro-me que certa vez ela até ficou impaciente ao me fazer um favor, mas o fez. E nunca (nunca mesmo!) me pediu nada em "troca". Aliás, acredito que se ela tomasse a relação como "comutativa", eu estaria em dívida com ela. Sempre foi atenciosa, de exclusivo bom grado, em suas atitudes para comigo! Que eu me lembre, ela nunca me solicitou nenhum favor, nunca sequer precisou de mim. Claro, eu teria feito o que ela precisasse, se fosse o caso.
Ela tinha (não sei se ainda tem), desde tenra jovialidade, alergia à futilidade de playboys e "patricinhas" de sua cidade e, acredito eu, de outros lugares nos quais esteve. Creio que nunca foi vista em companhia destes "tipos". Amplie-se: ela é alérgica a futilidades - assim a vejo (ela também sempre me disse que eu a rotulava erroneamente, mas tenho que me permitir falar aqui um pouco dos rótulos que coloco sobre ela. São as "minhas" interpretações - e, ressuscitemos Nietzsche: há algo além de nossas interpretações em nossas mentes?).
Pois bem, esta pessoa de lugar privilegiado em meu coração também surgiu em minha mente por outro motivo.
Eu havia visto na internet a seguinte imagem:


Tal imagem havia me feito refletir muito. É uma coisa tão óbvia e, ao mesmo tempo, tão ignorada por nós em nossos comportamentos. Mas é imprescindível tê-la em mente a pronto uso! Tão imprescindível, que em poucos dias depois de ver a imagem acima, elaborei - a partir dela - um pensamento muito valioso e estou fazendo uso dele várias vezes por dia:


Pense: que homem político merece o meu tempo? Que candidatos a cargos públicos merecem o meu tempo? Não é interessante refletir? Será que eles merecem o meu e o seu tempo pelos discursos que têm, já que suas práticas são geralmente nefastas? Com certeza, não. Progrido muito com este pensamento: quem fala muito e bem, mas faz pouco e mal, estou convicto, não merece meu tempo. Que aluno merece o meu tempo, numa orientação de trabalho de conclusão de curso, por exemplo, se ele plagia coisas da internet?
Enfim, a pessoa que ocupa um lugar especial em meu coração é detentora de mérito para receber o meu tempo. Este tempo aqui, por exemplo, de escrever um texto no blog encarnando-a como protagonista - ela merece? Sim, merece. Merece até mais.
Mas, é claro, um forte motivo acarretava meu pensamento. Esta pessoa, como eu disse, trata-me de modo oposto a pessoas que não mereceram o tempo que lhes dediquei, mas o receberam demasiadamente. Pessoas que, por eu tratar com amizade, receberam muito de mim, mas além de não darem nada (e como solicitei e até precisei em determinados instantes...), demonstraram que o bem estar da minha pessoa não tinha muita importância para as práticas delas. Faltou o mínimo: transparência, reciprocidade, respeito pelo meu modo particular de ser etc. E o mínimo é aquilo que é fundamental. A gente é importante para alguém não porque está no pensamento, mas principalmente porque está também em suas atitudes. Discursos cheios aliados a atitudes vazias - ou até prejudiciais - são "zeros a esquerda". Mas a gente sempre tem um ganho com isso: experiência - nós aprendemos a não precisar mais e não solicitar mais a quem não nos dá importância em suas práticas.
O caráter de alguém não vem das ideias "simplesmente" ou das "puras intenções", mas vem das práticas constantes que se tornam hábitos. Na etimologia da palavra, isto está presente. Mas devo fazer a ressalva: as pessoas mudam, os seres humanos são dotados desta maravilhosa capacidade: transformar-se. Então, poderiam renovar o caráter. Eu aguardo a mudança, até chegar o dia em que "a última que morre", minha "querida" esperança, vai a óbito.

E a questão de "dar e receber", no meu ponto de vista, é relativa, contextual e, inclusive, subjetiva. Já dei muitas coisas sem esperar nada em troca. Considero, inclusive, que devemos dar auxílio a pessoas que estejam em situações desfavorecidas, sem esperar nenhuma contrapartida. Podemos fazer isto por caridade, por amizade, por carinho, por afeto, por vários motivos pelos quais consideramos importante "dar" mesmo sem "receber". Mas é aquela coisa: um mendigo que pede esmola a você e afirma estar necessitando de sua ajuda para manter a família dele e utiliza o dinheiro para comprar cachaça está, obviamente, lhe enganando. O político que pede o seu voto porque diz precisar dele para melhorar o país e se corrompe, também. Pode até existir quem tenha mais bondade do que eu e ache justo dar dinheiro ao mendigo, ainda que ele esteja mentindo. Mas eu já considero injusto. Noutro dia, fiz como várias pessoas fazem: um "cuidador" de carros me abordou quando eu estava indo embora e me disse "bem guardado aí, patrão". Indaguei: qual é mesmo o meu carro? Ele olhou a fila dos carros estacionados, levou algum tempo e tentou advinhar: "o camaro branco". Brinquei: "Cara, você chuta muito mal! Nem cara de playboy eu tenho, muito menos carro eu teria!". Óbvio que não dei grana e nem daria: estimular a pessoa a continuar mentindo? Se ele vai continuar ou não, não é problema meu, mas eu não contribuo. Se eu contribuir, passo a integrar o problema. Enfim, a questão de "dar e receber" é uma questão de justiça, de racionalidade, ponderação, prudência, ou seja lá o que você considerar melhor para denominar: particularmente, eu dou algo quando considero que o outro merece. E percebi que as pessoas que receberam muito de minha preocupação e tempo não mereceram, ou seja, receberam de maneira injusta. Não apenas porque não tenham me dado nada em troca, mas muito mais porque já dispunham de outros meios para obterem aquilo que necessitavam e, em segundo lugar porque eu estava me sacrificando (sim, priorizei os problemas delas em detrimento dos meus, com evidentes prejuízos pra mim mesmo). Merecer seu tempo é uma questão de justiça e cabe a você avaliar!
A pessoa que tem um lugar florido em meu coração sempre teve muitas atitudes e poucos discursos. Foi por isto que surgiu em minha mente em primeiro lugar, já que há tantas outras pessoas que também merecem o meu tempo e merecem receber a primeira imagem que foi colocada nesta postagem.
Agora, deixando de lado as diversas pessoas que me fizeram pensar em tudo isso e tornando o pensamento generalizado e - em certos termos - impessoal, acredito que a percepção desta coisa óbvia (sim, creio que poucos de nós observamos isto com a devida atenção) possibilita um grande ganho pessoal. Perguntar a si mesmo se o outro tem mérito para receber o tempo de vida de que você dispõe é valorizar a si próprio. Nossa mente pode ser muito ludibriada pelo pensamento unilateral: podemos nos aproximar de alguém que detém uma boa reputação, seja por beldade, charme, inteligência, honrarias, fama, poder, riqueza etc., atribuindo valor, sem que avaliemos, na situação, o valor que nós mesmos temos. Isto nos debilita. Por isso, seja no âmbito profissional, afetivo etc. é importante a questão "qual é o mérito desta pessoa para receber aquilo que tenho de mais importante, o meu tempo?", justamente porque permite uma avaliação dupla: a da pessoa e a de você mesmo. E, aí, a pergunta deve ser frequente, pois a cada passo as coisas podem mudar.
Bem, este é mais um "ensaio" que chega ao fim para possibilitar reflexões. Espero e desejo que seja uma experiência útil a quem o ler.

7 de agosto de 2014

O QUE É UM MAU (FALSO) AMIGO?


"O que é um mau (falso) amigo?" - este foi o tema da redação solicitada pela minha professora de português aos meus treze anos, querida "Cida" Santana. Meus colegas da 7ª série do ensino fundamental não tinham dúvidas: "falso amigo" era alguém que se fingia ser legal com você, mas não era. Todas as respostas se norteavam por este significado, exceto a da minha redação.
Certo, eu nunca fui o "aluno nota 10", o perfeito "another brick in the wall" de Pink Floyd. Sempre estive um pouco fora do padrão, mesmo. Costumo enxergar as coisas de outras perspectivas e estas nem sempre são aceitas pelos outros.
No dia da entrega das redações corrigidas, a professora fez questão de comentar duas redações, dentre as quais uma era a minha. Ela também não precisava ter dito que levou minha redação para dois amigos dela, que eram psiquiatras, analisarem. Detalhe desnecessário, já que a turma de pré-adolescentes certamente iria rir e me qualificar de louco. E eles não precisavam saber das minhas maluquices tão cedo! (Risos eternos!).
A razão da minha redação ter sido objeto de análise pela docente foi a divergência com as demais. Eu gostaria muito de ter aqui o inteiro teor do documento, mas só tenho algumas lembranças. Mas recordo bem que, para mim, "mau amigo" era algo inexistente. Expus, de alguma maneira, que o substantivo "amigo" era incompatível com o adjetivo "mau", porque a palavra "amigo" já carregava, em seu significado, a ideia de "bom" (é, eu já gostava de filosofar, mesmo sem conhecer os filósofos renomados). Intrinsecamente, "amigo" é verdadeiro. Se alguém for falso, contigo, ou "mau" (como costumamos dizer na infância ou tenra adolescência), essa pessoa não é e nunca foi seu "amigo".
Redigi essas coisas aos treze anos, mas carreguei e carrego a postura compatível com estas minhas ideias desde o início das minhas amizades. Amizade envolve necessariamente: lealdade, estima (consideração), benevolência, dedicação, honestidade etc. na relação. Em suma: bons valores. É certo que ninguém é perfeito, erros ocorrem, como em todas as relações humanas, mas não pode haver amizade se não há bondade presente. Se a malevolência marca uma relação, se da convivência resultam apenas prejuízos, essa relação não é de amizade; é de inimizade, parasitismo ou algo de outro gênero.

Este texto vai em dedicação a um amigo: Igor de Mendonça Loureiro.

5 de agosto de 2014

BRINCANDO COM A MÚSICA "METADE", DE OSWALDO MONTENEGRO

Oswaldo Montenegro é autor de uma das mais belas canções que recordo: Metade. Hoje, eu estava num grupo do whatsapp do pessoal da aula de dança de salão e de repente uma amiga fez a seguinte pergunta: Leão, por que você posta estes poemas? Claro, eu estava, como sempre, brincando no grupo, usando umas postagens que a Chiado Editora faz no facebook para "dar indiretas". Mas quando ela me fez a pergunta sobre a razão das minhas postagens, veio-me logo à mente, todo pronto, o final da frase da música do Oswaldo, com a devida alteração para a minha personalidade. Foi o que respondi e, a partir de então, usei o formato das publicações que a Chiado Editora usa no facebook para inserir a minha brincadeira. O produto está aqui.


Não sei se criarei mais, mas gostei. Mandei para a Chiado, vamos ver no que dá. Talvez eu faça isso como hobby. Boa tarde para todos nós!

28 de julho de 2014

MENTIRA E OMISSÃO, IDADE E MATURIDADE, IMAGEM E ESSÊNCIA

"Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. [...] Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra."

O trecho acima, da entrevista de Roberto Shinyashiki para a revista Isto é (N° Edição:  1879 | 19.Out.05), é interessante para minhas observações, apesar de a entrevista tratar da cultura da aparência no âmbito profissional. De minha parte, quero tratar da cultura da aparência no âmbito dos relacionamentos interpessoais/sociais, de uma forma mais geral. Para isso, proponho a seguinte pergunta:

* o que você perde sendo transparente, autêntico, honesto, sincero, verdadeiro?

É praticamente um consenso dizer que em todo início de relação, as pessoas "só" deixam à luz o seu "lado bom", seus comportamentos louváveis, suas atitudes e feitos que são valorizados pelo alheio. Seja para amizade, para trabalho, para namoro, para contato, é "natural" agirem assim. Nós vivemos num ambiente que constantemente hostiliza aquilo que temos de humanidade "ruim". Em meu poema predileto, Cântico Negro, José Régio inseriu:

"Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo."

Em outras palavras, ele sabe que é humano. Sabe que tem em si aspectos que socialmente - e também individualmente! - podem ser considerados positivos e negativos, bons ou ruins.
Agora, parece que quanto mais velhas as pessoas ficam, mais aprendem a mentir e omitir. Mais aprendem a ter de ser - demasiadamente! - frias e controladas para não fazerem transparecer seus sentimentos, emoções e, mais, suas razões "negras", como se não tivessem alma (vale lembrar que alma é uma palavra que vem do latim "anima", que também significa ânimo). Lembram-me duma frase famosa, que circula normalmente no facebook, com assinatura de Freud: "Somos feitos de carne e osso, mas temos que viver como se fôssemos de ferro". É justamente essa necessidade de "ser de ferro", de ser algo "mais vigoroso" do que realmente somos, de nos mostrarmos como um ideal ordenado - ou mesmo perfeito - e não como uma realidade caótica (um viciado em Nietzsche, como eu, não poderia deixar de falar assim) que produz essa doença - a artificial necessidade de parecer ser mais do que se é e mais do que se pode ser.

Há dois instrumentos para isso. O primeiro e mais conhecido, embora socialmente condenado, é individualmente bastante utilizado: a mentira. De uma maneira geral, as religiões condenam a mentira, as morais condenam a mentira e até as leis podem chegar a proibi-la. Enfim, as instituições humanas condenam a mentira. Mas nesse mundo competitivo, mentimos: mentimos ter feito um curso que não fizemos para conseguirmos um emprego, mentimos não termos problemas pessoais, mentimos, mentimos, mentimos... (Ok, eu estou usando a terceira pessoa do plural, mas é por estilo, jamais por desejo de pertencer ao coletivo). A mentira é fruto do egoísmo, da vontade ou necessidade de obter uma vantagem, indevidamente. Há também, um "porém": mentimos porque temos a crença de que a pessoa a quem estamos enganando não teria cacife para aceitar a verdade, a realidade. E eu suspeito mesmo que a maioria não tem, porque a experiência está me mostrando que quanto mais as pessoas adquirem idade, mais estão cultivando e aprimorando as suas mentiras para fins de se darem bem na vida, de obterem recompensas sem o correspondente mérito. Se a mentira está se disseminando, é porque existe contrapartida. Estamos nos tornando "adultos infantis", não porque somos lúdicos, mas porque somos mentirosos e a mentira é um ato infantil, um ato de alguém que, por medo diante do poder do pai e/ou da mãe, oculta a verdade substituindo-a por uma invenção. Que relacionamentos sociais e interpessoais iremos construir nesse emaranhado? Serão relacionamentos verdadeiros ou relacionamentos falsos? Aposto tudo que pertencerão à segunda alternativa. E isso só pode levar o relacionamento social/interpessoal ao insucesso, com consequências drásticas. Um funcionário que não sabe digitar e foi contratado com a função de digitador em uma empresa, tende a gerar um bom desperdício, havendo mentido que tinha conhecimento de digitação. A empresa tende a ter problemas com os clientes em função disso e assim vai... O efeito é dominó, nesta minha hipótese. E num namoro, então? E numa amizade?

Todavia, na minha visão, um ato tão prejudicial quanto a mentira é a omissão. Mas este é mais corriqueiro e inúmeras pessoas que sentem remorso por mentir, não teriam nenhum peso na consciência por omitir. Omitir é deixar de dizer. "Mas é claro, ninguém tem o dever de dizer tudo aos outros" - poderiam me argumentar. Não é isto que estou dizendo, que se deve dizer tudo. Num relacionamento, nos sabemos ou pressupomos o que é importante para o outro. Ninguém também vai mentir sobre tudo, vai mentir somente se considerar que o outro não deve saber da verdade. E é aí que mora o perigo. Temos critérios para definir mais ou menos o que é e o que não é importante para pessoa com quem estamos nos relacionando (em termos profissionais e pessoais: no trabalho, na amizade, no amor). Não somos imbecis. Podemos discernir e, de certo modo, há um bom senso sobre o que é importante e o que não é. Fazemos essa ponderação instantaneamente, já que estamos acostumados a nos relacionar, em sociedade. Por isso, eu penso: se mentir é esconder a verdade através das palavras, omitir é escondê-la através do silêncio. Mudam-se os meios, mas não o fim. Trocam-se palavras pelo silêncio, mas o propósito é ocultar a verdade, a realidade.

Obs.: tenho quase certeza de que muitas pessoas não concordam com o que eu disse sobre a omissão, mas não estou aqui para obter seguidores.

Todo este texto estava sendo pensado há tempos, mas foi impulsionado para ser publicado agora por causa de uma conversa simples de uma garota que conta com 18 anos de idade e um sujeito que está pra lá dos 30. Sem necessidade de responder a perguntas, ela disse coisas importantes. Ela já sabia o que era preciso dizer para que as coisas fluíssem para o lado bom, independentemente do que ocorresse: era preciso dizer a verdade, era bom dizer a verdade. Evidentemente, o ouvinte poderia esbravejar ou poderia aceitar as coisas como são, a realidade como é. Mas se ele esbravejasse, a infantilidade seria dele. Mas se ela mentisse ou omitisse, a infantilidade seria dela. Enfim, eles começaram uma relação de amizade de maneira madura, pois ambos agiram com maturidade. Talvez ela nem se dê conta de tudo isso sozinha, talvez mude, talvez sofra desventuras que a tornem diferente. Talvez ele também tenha compreensão errada de tudo, talvez se ferre por conta disso, talvez seja tolo. Mas a soma de todos os "talvez" que aqui foram ditos não chega aos pés da certeza que o ato inicial desse relacionamento interpessoal foi maduro. Será que não precisamos abandonar nossas infantilidades prejudiciais e recuperar a nossa jovialidade benéfica? Porque, nessa sociedade cultivadora das aparências, parece que à verdade não é dada a devida importância. Sinto-me na era das falsas imagens: fotos felizes, casamentos felizes, trabalhos satisfatórios etc. Não será tudo "fachada"? Fotos do que não somos? Quero descer do palco deste teatro chato. Já dei meus primeiros passos. Deixo também este "ensaio" para que leitores reflitam.

25 de julho de 2012

MENDICÂNCIA DE NOTA

Não costumo tratar de questões profissionais no Facebook. Mas hoje recebi um e-mail de aluno e considerei prudente tornar a informação pública lá, para esclarecer algumas coisas. Friso que o e-mail recebido não está respaldado em nenhuma espécie de sigilo legal. Mesmo assim, pouparei o nome do aluno e não o informarei a nenhum curioso, exceto à coordenação de curso.
A mensagem que recebi foi a seguinte:
"bom dia professor, infelizmente só tenho que lamentar sua falta de consideração, enviei varios emails e não obtive respostas inclusive um que mencionei que o senhor disse que seria igual pra todos e na verdade o senhor deu pontos por participação para alguns alunos e comigo não quis nem conversa. estou aguardando uma resposta,( principio da impessoalidade) conversei com outro professor que disse que minha resposta estava certa. mas independente disso pesso que veja os pontos de participação da mesma forma que deu para outros alunos."
 
Analisemos:
 
1. Em primeiro lugar, professor nenhum tem dever de responder e-mails de alunos. Eu costumo respondê-los, mas não quando são súplicas de notas, pois tenho a expectativa de que o indivíduo perceba que sou um educador, mas não um samaritano, e, a partir de então, não me envie mais tais tipos de e-mail. Em minha mente, o aluno que envia este tipo de e-mail é que age com "falta de consideração" ao professor.
 
2. Em segundo lugar, definitivamente, não dou e não darei "pontos por participação". Sigo os critérios que foram definidos por mim para fins de avaliação e entre eles, geralmente, não há este (vamos deixar de lado o fato de o aluno que me enviou tal e-mail não ter direito a nenhum ponto por participação, caso este critério tivesse sido adotado. Mas que pelo menos fique registrado).
 
3. Quando reviso provas, só posso utilizar o meu ponto de vista na correção. Em caso de inconformidade, o acadêmico deverá recorrer a quem for competente institucionalmente para alterar a nota que eu atribuí e não simplesmente informar que "para outro professor" a questão estava certa.
 
4. Não posso atribuir ao aluno a responsabilidade por erros de português (v.g. pesso), pois talvez isto tenha a ver com o sistema educacional, talvez com outros fatores. De toda maneira, considero um problema que atinge muitos acadêmicos de hoje e desconfio seriamente que esteja relacionado com aquilo que chamo de "cultura dos trabalhinhos" e "cultura dos pontinhos por participação" que está dominando todos os níveis educacionais. Muitos alunos não enxergam hoje que a responsabilidade pela aprovação ou reprovação é deles e não do professor (salvo quando o professor for sádico, o que tenho certeza não ser o meu caso). Tento conduzir minha profissão com seriedade, mas não sei se estou vivendo no mundo certo.
 
5. Para acrescentar uma informação que não tem a ver muito com o e-mail do aluno, mas com outros e-mails de outros alunos: todos têm problemas na vida, eu mesmo tive vários. Os problemas podem atrapalhar suas atividades, é verdade; mas os problemas não consistem em justificativas para aprovar/reprovar um aluno, ou para aumentar suas notas. Tive problemas e perdi anos ou meses de vida com eles em duas oportunidades (tive que refazer matérias que já havia cursado ou pedir prorrogação de prazo para entrega de trabalhos etc.). Tenho a mais absoluta certeza de que este tempo eu perdi não por incompetência, inabilidade, e/ou desleixo, mas em virtude de fatores alheios à minha vontade. Mas jamais pedi para ser aprovado sem ter cumprido os requisitos, ou para receber nota sem mérito de aprendizado. A ninguém cabe pedir isto, em princípio.
 
Estarei na batalha contra algo que devo chamar "mendicância de notas". Assim como espero que os mendigos sejam integrados à sociedade com dignidade, procurarei fazer com que os "mendigos de notas" sejam integrados à educação com dignidade. Mas, diferentemente dos primeiros, estes últimos não precisam de assistência social. Eu não sou contra os "mendigos de nota". Mas sou absolutamente contrário a esta prática de mendicância. A dignidade destes últimos só será atingida quando eles deixarem de lado o pensamento que os move e modificarem - por si mesmos - o seu comportamento. Não tenho esperança de ensiná-los enquanto não se dispuserem a aprender.
A educação, neste país, ainda precisa melhorar muito.