Não
costumo tratar de questões profissionais no Facebook. Mas hoje recebi
um e-mail de aluno e considerei prudente tornar a informação pública lá,
para esclarecer algumas coisas. Friso que o e-mail recebido não está
respaldado em nenhuma espécie de sigilo legal. Mesmo assim, pouparei o
nome do aluno e não o informarei a nenhum curioso, exceto à coordenação
de curso. A mensagem que recebi foi a seguinte: "bom dia
professor, infelizmente só tenho que lamentar sua falta de consideração,
enviei varios emails e não obtive respostas inclusive um que mencionei
que o senhor disse que seria igual pra todos e na verdade o senhor deu
pontos por participação para alguns alunos e comigo não quis nem
conversa. estou aguardando uma resposta,( principio da impessoalidade)
conversei com outro professor que disse que minha resposta estava certa.
mas independente disso pesso que veja os pontos de participação da
mesma forma que deu para outros alunos."
Analisemos:
1.
Em primeiro lugar, professor nenhum tem dever de responder e-mails de alunos. Eu costumo respondê-los, mas não quando são súplicas de
notas, pois tenho a expectativa de que o indivíduo perceba que sou um educador,
mas não um samaritano, e, a partir de então, não me envie mais tais tipos
de e-mail. Em minha mente, o aluno que envia este tipo de e-mail é que
age com "falta de consideração" ao professor.
2. Em segundo lugar,
definitivamente, não dou e não darei "pontos por participação". Sigo os
critérios que foram definidos por mim para fins de avaliação e entre
eles, geralmente, não há este (vamos deixar de lado o fato de o
aluno que me enviou tal e-mail não ter direito a nenhum ponto por
participação, caso este critério tivesse sido adotado. Mas que pelo
menos fique registrado).
3. Quando reviso provas, só posso utilizar o
meu ponto de vista na correção. Em caso de inconformidade, o acadêmico
deverá recorrer a quem for competente institucionalmente para alterar a
nota que eu atribuí e não simplesmente informar que "para outro professor" a questão estava certa.
4. Não
posso atribuir ao aluno a responsabilidade por erros de português (v.g.
pesso), pois talvez isto tenha a ver com o sistema educacional, talvez com outros fatores.
De toda maneira, considero um problema que atinge muitos acadêmicos de
hoje e desconfio seriamente que esteja relacionado com aquilo que chamo
de "cultura dos trabalhinhos" e "cultura dos pontinhos por participação"
que está dominando todos os níveis educacionais. Muitos alunos não
enxergam hoje que a responsabilidade pela aprovação ou reprovação é
deles e não do professor (salvo quando o professor for sádico, o que
tenho certeza não ser o meu caso). Tento conduzir minha profissão com
seriedade, mas não sei se estou vivendo no mundo certo.
5. Para
acrescentar uma informação que não tem a ver muito com o e-mail do
aluno, mas com outros e-mails de outros alunos: todos têm problemas na
vida, eu mesmo tive vários. Os problemas podem atrapalhar suas
atividades, é verdade; mas os problemas não consistem em justificativas
para aprovar/reprovar um aluno, ou para aumentar suas notas.
Tive problemas e perdi anos ou meses de vida com eles em duas
oportunidades (tive que refazer matérias que já havia cursado ou pedir
prorrogação de prazo para entrega de trabalhos etc.). Tenho a mais absoluta
certeza de que este tempo eu perdi não por incompetência, inabilidade, e/ou desleixo,
mas em virtude de fatores alheios à minha vontade. Mas jamais pedi para ser aprovado sem ter cumprido os requisitos, ou para receber nota sem mérito de aprendizado. A ninguém cabe pedir
isto, em princípio.
Estarei na batalha contra algo que devo chamar
"mendicância de notas". Assim como espero que os mendigos sejam
integrados à sociedade com dignidade, procurarei fazer com que os
"mendigos de notas" sejam integrados à educação com dignidade. Mas,
diferentemente dos primeiros, estes últimos não precisam de assistência
social. Eu não sou contra os "mendigos de nota". Mas sou absolutamente contrário a esta prática de mendicância. A dignidade destes últimos só será atingida quando eles deixarem de lado o pensamento que os move e modificarem - por si mesmos - o seu comportamento. Não tenho esperança de ensiná-los enquanto não se dispuserem a aprender.
A educação, neste país, ainda precisa melhorar muito.