26 de outubro de 2010

REFLEXÃO SOBRE O ABORTO

Publico aqui o texto que corresponde ao meu discurso feito durante o concurso de oratória do Congresso das Faculdades de Direito do MS, no ano 2000. O título era este: "Reflexão sobre o aborto". Não se trata, de modo algum, de um texto que exaure a argumentação. Algumas palavras eu substituiria hoje em virtude das mutações pelas quais meu ideário passou, mas a essência do conjunto não. Vários detalhes eu acrescentaria, com certeza! Mas preferi publicar o discurso original, que me levou ao segundo lugar no concurso, sem alterações. Lembro ao leitor que, como o concurso estabelecia limite de tempo, o texto ficou mais curto do que eu pretendi à época. Sem mais delongas, segue abaixo o discurso que tem, praticamente, seus 10 anos de proferimento:


Reflexão sobre o aborto

É notório, e bem expresso em Aristóteles: o escopo das obras humanas é a felicidade. Sua obtenção é pressuposta pela existência de diversos elementos, dentre os quais a vida é o de maior estima, já que sua ausência implica na carência de todos os demais componentes.  A vida é o cerne do resguardo de um ordenamento jurídico atilado.
A vida do ser humano inicia a partir da concepção, quando se pode averiguar atividade celular autônoma do embrião em relação aos progenitores. Isso acarreta o aparecimento de um novo sujeito. Este, em grau primitivo,  é comparado bastantes vezes a um vegetal, como pretexto para a sua destruição; mas a distinção é insofismável: em um, não há nem mesmo perspectiva de alteração quanto à espiritualidade, enquanto no outro, o destino é a constituição de um homem. Tal sina é um direito individual, eticamente superior aos demais.
O aborto é uma agressão contra o aludido direito. Quando a continuidade da gravidez é letal à mãe, infelizmente é necessária a sua execução. Porém, o empenho humano, mormente na Medicina, é engrenado a resolver esse dilema, a bem da coletividade. Quanto ao aborto na gravidez resultante de violência sexual, deve-se refletir muito bem: há um estupro, sua causa é a anomalia psíquica, seu agente, o estuprador. A gestação é mero efeito. Qual é a razão para se combater a conseqüência deste crime, condenando à morte o inocente, tirando-lhe a única chance de viver,  quando simultaneamente se dá uma nova chance ao criminoso? E nos casos de aborto pela simples vontade dos genitores, qual o juízo? Não há. O que norteia esta atitude é a insensibilidade e a estupidez.
Pelo escárnio de valores da atual conjuntura, gestantes decidem remover a possibilidade de seu descendente desvendar o mundo, acreditando que advirão do nascimento problemas – a miséria, a fome, o preconceito. – Sobre estas questões, caros colegas, não cabe ao ser humano meramente decidir; mister se faz solucionar. Assim se sucedeu com os deficientes congênitos: eram considerados um infortúnio irrecuperável, até pelos familiares. Em Esparta, eram exterminados. Hoje são participantes ativos da comunidade. O caso foi solucionado.
Então, senhores, qual a solução para uma gravidez indesejada? É a transformação. A transformação da insensatez em sabedoria, do desafeto em compaixão, do egoísmo em solidariedade. Em suma: é preciso dotar os homens de moralidade e sapiência. É imprescindível conscientizá-los do objetivo primordial de todas as nossas invenções: a perpetuação da espécie num universo idôneo, respeitando, auxiliando e, sem sombra de dúvidas amando o próximo. Mas, ainda que a gestação seja tida como malefício, recorram ao preceito de Lao-Tsé: “pagai o mal com o bem, porque o amor é vitorioso no ataque e invulnerável na defesa”.

5 comentários:

Anônimo disse...

Amigo, como vc mesmo falou o debate nao se esgota, a reflexão posta está residindo sobre a ampliação dos direitos de liberdade e não sobre o que motiva a decisão de interromper ou não a gravidez. Não se resolve, contudo, o conflito da expectativa de direito à vida da criança que está sendo gerada e a liberdade que os genitores tem sobre continuar ou não com a gestação. De qualquer maneira a realidade está exigindo um posicionamento e temos que satisfazer. Vamos pro debate!

Professor Leão disse...

Gosto do Eric porque é propenso aos debates!!! Desta vez não lançarei o livro de Bauman ao seu colo, eu prometo!!! Hehehe... Mas vamos ao debate sim, só que não nesta noite, ok? Grande abraço!!!

Andreia Sieczko disse...

Maravilhosa reflexão. Vou te seguir!

Professor Leão disse...

Obrigado, Andreia!

Pré Vestibular Campinas disse...

Ótimo discurso. Está de parabéns!
É um assunto delicado que você tratou de um jeito muito legal.

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